quarta-feira, 1 de abril de 2009

É um problema.

A cultura de moda traz consigo um probleminha muito complicado: A ditadura das tendências.

Muito espaço para o tema é algo que vejo associado ao despertar para uma cultura da moda. Mas como ampliar o assunto se 99,9% de todos os espaços de mídia e outros estão, de alguma maneira, falando das mesmas coisas? Essas mesmas coisas são as tendências.
Nesse ponto, a cultura fica pobre e óbvia. Seria tão bom se pudéssemos abolir as tendências (quase sempre comprometidéssimas com a indústria) e pensar a moda de uma forma mais livre. De forma que ela pudesse realmente traduzir comportamentos, que são variados, seguem tendências, mas são muito mais do que:"futurismo", "étnico", "romântico", rock and roll", "drama", "art deco" e por ai vai...

Que moda faz uma pessoa que não se identifica com absolutamente nada disso?!!! Ela simplesmente não está identificada com moda.
Nosso permanente esforço em classificar as "coisas" nos ajuda a compreender e codificar o universo, as coisas e também as pessoas. Parece óbvio. E é.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Viva a cultura de moda!




Existe um tema que não me sai da cabeça no momento. O tema é "cultura de moda". O que é isso exatamente? Ainda não sei direito, mas sei por exemplo que não é apenas o glamour, o fashionismo ou o consumismo...

Sei também que Paris e Milão, por exemplo, possuem uma cultura de moda muito forte. No Brasil, dizem por ai, que a coisa ainda é muito recente. Mas, assunte...
A moda, e não somente a roupa que vestimos hoje e ontem, está ganhando espaço no debate público, queremos entender, fazer, consumir, falar, nos apropriar... compreender os ciclos e identificar os elementos de seu sistema. Mas, sobretudo, identificar aquilo que nos diferencia de outras culturas de moda e que nos dá uma identidade e cá para nós, a indústria da moda adora. Tudo bem. O que é a moda senão a indústria da moda? Dizem ser a mesma coisa. Mas ainda tenho dúvidas se a moda atende apenas ao mercado, ou se ela tem alguma independência no momento em que surge e em seguida vira algo desejável e vendável. Ou mesmo quando se percebe que ela está ali todo o tempo, quando se tem essa consciência, a consciência de sua presença e de nosso poder sobre ela. E isso não tem necessariamente nada a ver com indústria.

Mas voltando, ao tema cultura de moda, uma coisa realmente está acontecendo e isso me faz acreditar que moda e o comportamento associado está entrando no debate público. Primeiro grande acontecimento: A estréia do Fashion TV Brasil. Esse canal está cada vez melhor! Por exemplo: O que é a matéria sobre o Ronaldo Fraga?! Simplesmente, fundamental. Ele é maravilhoso, intelectualizado, faz um roupa politizada, bem feita e linda demais... Porque beleza é fundamental...Sou apaixonada por ele.
Outra: São as colunas dos jornalistas de moda, como o Alcino Leite e a Vivian da Folha. Eles fazem uma crítica independente muito afinada e atual...
Assim, o tema ganha espaço na sociedade e na mídia e isso faz amadurecer idéias sobre o comportamento que certamente reflete na roupa e no modo de consumir. Estamos no caminho...

Mas vale a pena conferir os desfiles do Ronaldo... O último, como muitos sabem, foi de chorar de lindo e ainda formador de opinião.
Beijos... continuo depois.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Feliz ano novo!


Ano novo...verão, férias e quase todo mundo de roupa nova... Especialmente nessa época do ano observo muito o que as pessoas estão usando e comprando. Normalmente, as pessoas usam roupas mais descontraídas, pois estão de férias e quase sempre roupas novas compradas ou recebidas de presente que, grosso modo, representam aquilo que pode ser considerado a última têndencia.

Nesse final de ano e início de 2009 esperava uma maior democracia no vestuário, sempre tão desejada. Mas o que tenho visto é uma ditadura do vestido-longo-estampado. Vi muitas mulheres com esta peça, que não importando o corte, caimento e tipo de tecido, ficam todas muito parecidas.
Compreendo que nosso clima tropical somado às festas de final de ano, às trocas de presentes e palavras bonitas até inspiram realmente um visual mais festivo. Mas se não é isso que eu quero vestir, também não encontro facilmente alternativas. Assim, não tenho absoluta certeza de que as vestidas em seu longo estampado, estão assim por que realmente querem ser festivas, ou simplesmente por que é o que está nas vitrines.

A roupa que eu uso sempre teve a ver com meu estado de espírito, algo muito subjetivo e portanto, pessoal... Com a moda, é um pouco semelhante, reflete, em um sentido amplo, o estado de espírito social, ou melhor, traduz o espírito do momento. Definitivamente, para mim o espírito do momento não tem nada a ver com vestido-longo-estampado. Vou explicar o porquê.

Começando por questões climáticas. Chove sem parar a mais de um mês. E como se não bastasse toda a chuva, ela veio acompanhada de inúmeras tragédias, que não vou citar. Objetivamente, quando chove não gosto de usar vestido, porque não fica bem com sapato ou tênis. Fica bom com sandália e sandália na chuva, não dá!

Economicamente, no adianta o discurso de final de ano do nosso Presidente dizendo que por aqui a crise não chega. A previsão para 2009 é de significativo aumento nas taxas de desemprego. Toda essa crise econômica sugere atitudes mais simples diante da vida. Apesar do vestido longo ter uma pegada hippie, anos 70, etc, ele veio com um apelo mais glamouroso, com decotes "tomara que caia". Assim, fica meio fora de contexto o luxo visual que é acionado.

Contudo, as questões culturais e sociais são as que mais tomam contam do meu humor. Poderia ficar aqui dissertando sobre a violência que assola o Brasil e mundo, tendo em vista a brutalidade dos ataques à Palestina. Porém, se não fosse a esperança na humanidade não estaríamos aqui agora.

Mesmo não vendo motivos concretos para fazer muita festa e usar e abusar nos estampados, a roupa que visto não precisa ser triste. Ela pode ser bonita e tende a ser dramática porém com esperança.

Vejo no meio da efusão de cores e estampas perdidas e sem sentido, uma tradução quase perfeita do espírito do momento. Vou descrever, então, a roupa do momento para mim e desenhá-la em seguida.

É quase uma parca-vestido de um tecido fino, porém estruturado e meio amassado, com mangas na altura dos cotovelos. Seu comprimento um pouco abaixo dos quadris e levemente acinturada. Zípers prateados unindo uma ponta da modelagem irregular a outra que formam uma gola alta. A cor, essa é um azul escuro quase petróleo e por dentro seu forro é de poá. Não sei explicar por ela é assim, apenas seria assim a roupa que hoje traduz o espírito do momento e um pouco do meu espírito.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

100 anos de Lévi - Strauss


Foi ótimo visitar o blog http://ultimamoda.folha.blog.uol.com.br/ , indicado por uma querida amiga jornalista. Lá me deparei com textos de ótima qualidade sobre moda. Abordagens interessantes e conteúdos variados difíceis de achar por aí. Normalmente encontro muita afetação e pouca opinião.


Estava há um tempo atrás a fim de escrever algo sobre Levi Strauss, pegando carona na celebração de seu centenário vivo. Então, me deparei com um post de Alcino Leite Neto da Folha. Ele transcreveu trechos de Tristes Tópicos. Já que estão tão bem transcritos, reproduzo-os abaixo, por pura preguiça de abrir o livro (vale dizer que isso não é caracterista de antropólogo, mas ultimamente tenho aberto mais as Vogues do que os Clássicos...rs)



... fala do luxo dos Bororo _a indumentária e os acessórios:
"Contrastando com a austeridade dos objetos utilitários, os Bororo colocam todo o seu luxo e a sua imaginação na indumentária, ou pelo menos _já que esta é das mais sumárias_ nos acessórios. As mulheres possuem verdadeiras caixas de jóias, que transmitem de mãe para filha: são paramentos de dentes de macaco ou de presas de onça incrustrados em madeira e presos por finas ligaduras. Se elas reivindicam dessa maneira os despojos da caça, prestam-se à depilação de suas próprias têmporas pelos homens que, com os cabelos de suas mulheres, confeccionam longas cordinhas trançadas que enrolam na cabeça como um turbante. Os homens também usam, nos dias de festa, pingentes em forma de mei-lua, feitos de um par de unhas o grande tatu (...), embelezados com incrustrações de madrepérola, franjas de plumas ou de algodão. (...)
Um pedaço de casca de árvore, algumas penas fornecem aos incansáveis modistas pretexto para uma sensacional criação de brincos-pingentes. Há que se entrar na casa-dos-homens para avaliar a atividade despendida por esses robustos rapazes em se embelezar: em todos os cantos, corta-se, modela-se, cinzela-se, cola-se; as conchas do rio são quebradas em cacos e polidas em mós de maneira vigorosa para se fazerem colares e tembetás; fantásticas construções de bambu e de plumas são montadas. Com uma aplicação de costureira, os homens de físico de carregadores transformam-se mutuamente em pintinhos, graças à lanugem colada direto na pele" ("Tristes Trópicos", págs. 212-212, Companhia das Letras).



Bom, isso foi suficiente para dizer que o luxo não é uma invenção do capitalismo, nem mesmo prerrogativa das aristocracias e elites burgueses. Mesmo que todos nós já soubessemos disso... sempre encontro por aí pessoas que interpretam o luxo como o mal da humanidade, correspondente a uma sociedade materialista, individualista, burguesa e capitalista e por ai vai...


Todas as sociedade possuem uma cultura material riquíssima. Os significados e os usos ultrapassam a nossa capacidade imaginativa de senso comum. Muita etnografia é preciso para compreender os significados dos sistema de objetos de cada sociedade. A cada passo que se dá no sentido de compreender o sisgnificado do uso ou consumo de um objeto, afasta-se da idéia do mero culto ao objeto, aproximando-se a um amplo sistema no qual os objetos atendem as necessidades das relações sociais estabelecidas naquele contexto cultural


Mais precisamento no caso da indumentária, além das relações sociais onde estão inseridas , pode-se observar a relação dos objetos com o próprio corpo, tendo em vista a necessidade de enfeitá-lo, ou em outra compreensão, a permanente necessidade de escondê-lo, não por simples pudor, mas por não gostarmos de sua aparência natural, nua e crua.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

" A moda expressa algo que o corpo não pode expressar".
Filósofo espanhol Alfredo Cruz

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Roupa para pensar...


Outro dia li que a moda só existe em função dela mesma. Que não era possível pensar a moda pela paz, a moda pelo meio-ambiente, etc.
Mas como a sustentabilidade está na moda é possível sim uma moda pela sustentabilidade, principalmente em tempos de crise econômica/financeira mundial.

Hoje, até quem dita o funcionamento da economia global percebe que realmente é preciso rever o atual modelo de desenvolvimento econômico (algo que os movimentos sociais, ongs, intelectuais, ambientalistas já apontavam há pelo menos três décadas).

Sustentabilidade se tornou a palavra do momento e seu significado pode ser tomado de várias conotações de acordo com o contexto. Quando usado no campo da moda, pode significar uma crítica ao consumismo exacerbado, ao efêmero desenfreiado das tendências, à curta vida das roupas e ao seu descarte, ou mesmo ao uso de tecnologias menos agressivas ao meio-ambiente.

Se eu hoje tivesse meu atelier a pleno vapor invistiria em em uma proposta como da turma do by Mutation http://bymutation.com/. Eles/elas fazem roupas lindas e criativas com os restos da indústria de confecção, com roupas compradas em bazares e brechós, doações de amigos e por ai vai... A matéria-prima é aquilo que iria para o lixo. Também não abrem mão de uma perspectiva social. A mão-de-obra empregada vem de cooperativas praticamente incubadas por eles ou por elas mesmas. Trocam serviços por aulas de costura e modelagem. Fazem peças únicas com materiais únicos e modelagem única. Muito Legal!!!

Esse é um exemplo, mas tem muita coisa interessante rolando por ai. Algodões orgânicos, tecidos com tingimento natural... tudo para diminuir os resíduos químicos e tóxicos da indústria têxtil.

Quem compra??!! Possivelmente pessoas com maior poder aquisitivo e instruídas.
Sabe-se que ainda não é algo acessível e disponível a todos. Mas, existe um forte "nicho de mercado" ávido por esses produtos de marcas ultra-conceituais. Consumidores que querem comprar sem culpa e não querem comprar muito, mas se quiserem qual o problema??! Está aí um paradoxo do consumo consciente.
Ponto para a moda.

Foto: divulgação site by Mutation

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Suas roupas vestem bem?


Pergunto isso, pois a maioria das minhas roupas não veste, portanto, não as visto. Conclusão: não uso muitas roupas que tenho no armário. Das calças jeans aos vestidos, passando por saias e blusinhas. Mas porquê?!!! Por que a roupa do dia-a-dia sempre fica um pouco "tortinha"?!! Quando falo em roupa do dia-a-dia me refiro sempre a roupas consideradas "básicas" e de custo mais baixo. No onda do hi-lo, as roupas a que me refiro são as low prices e não as high prices, claro.

Há algum tempo atrás achava que o problema era o meu corpo. Não cheguei ao complexo, preferi relativizar. De uma maneira geral, observo que a roupa do dia-a-dia da brasileira que trabalha fora não veste bem. Por todo lado vejo blusas que não cobrem a barriga, mangas que não são confortáveis aos braços, calças com gavião torto, cofrinhos de fora, botões que ao aboatoarem deixam uma brecha na altura dos seios, saias fora do eixo da cintura/quadril ao se caminhar... e por aí vai. Isso sem falar nos estilos brasileiros não raros adotados para mostrar o corpo.

Quando fui à França fiquei chocada com a elegância natural das mulheres e homens. As roupas caiam perfeitamente bem em seus corpos. Dos bairros mais sofisticados de Paris aos de periferia, onde ficam os mercados das pulgas, passando pelo o interior do país, observei a existência de uma democracia do bom corte, do bom caimento e um gosto cultural dos franceses por isso. O design francês da alta-costura é normalmente caracterizado pela pureza da silhueta associada à complexidade do corte: o caimento que acompanha o contorno do corpo, com um quê de arredondado, pode ser observado por toda parte e isso independe do estilo da roupa que se usa.

Qual o real segredo do bom corte, do bom caimento, para além do gosto ou de um senso estético apurado que coordena bem os princípios e elementos do design como silhueta, linha, proporção, ritmo, equilibrio, harmonia, constraste...? Para mim a resposta é a matemática.

Em minhas andanças no último 1 ano e meio por cursos e ateliês que ensinam modelagem, corte e costura, aprendi que a responsável pelo bom corte é a modelagem. Esta é feita pela modelista que calcula, calcula, esquadra, compassa, mede, ajusta, soma, divide, subtrai, multiplica... Então, me arrisco a dizer que se modelagem é matemática pura e se os franceses são puramente cartesianos, sistemáticos e metódicos, o resultado não seria outro, senão uma modelagem impecável.

Quanto a nós... Bem, acho que de uma maneira geral não temos tanta afinidade com a matemática. Converso sempre que posso com costureiras que fazem moldes e a maioria os fazem de forma intuitiva. "É na fita métrica e no olho," dizem elas. Por vezes rejeitam até mesmo o uso de ferramentas de mensuração, pois aprenderam a modelar, cortar e costurar sem esses aparatos. Nos cursos que faço, vejo muitas meninas que não sabem usar a máquina de calcular e demonstram muita dificuldade com os esquadros.

Culturamente, parece que por aqui a matemática é um campo masculino. As mulheres não são estimuladas desde pequenas para a matemática e portanto, expressam mais dificuldade com essa ciência do que os homens. Isso não siginifica que temos menos capacidade, mas que essa capacidade não é usualmente desenvolvida.

Porém, somos muito criativas e encontramos sempre soluções ótimas na relação custo-beneficio. Por isso, as confecções e grifes de norte a sul do país descobriram e elegeram a viscolycra como solução para o nosso problema de caimento das roupas. Agora tudo é de viscolycra, viscoelastano, visco-seda-elastano-lycra, etc. As roupas desse material são fáceis de cortar e costurar e sempre dão um bom caimento, por mais simples ou "tosco" que seja seu corte.

Para pessoas como eu que não usam viscolycra nem sob tortura e adoram roupas de algodão, linho, poppeline e tricolline, é melhor correr para o curso de modelagem e se preparar para enfrentar a matemática. Tudo isso, como boas brasileiras, sem deixar de lado nossa intuição criativa!